Origem do nome – Porque Alcoólicos Anônimos ?
Prefácio na Primeira Edição em 1939
Nós, os Alcoólicos Anônimos, somos várias centenas* de pessoas que nos recuperamos de uma condição mental e física até hoje aparentemente incurável.
Mostrar a outros alcoólicos exatamente como nos restabelecemos, é o principal objetivo deste livro. Esperamos que estas páginas sejam tão convincentes que não precisem de mais provas. Cremos que este relato das nossas experiências ajudará a todos que nos lêem a entenderem melhor o alcoolismo. Existem muitas pessoas incapazes de compreender que o alcoólico é um ser enfermo. Além disso, estamos certos que nossa maneira de viver traz vantagens para todos.
É importante permanecermos anônimos porque, presentemente, somos muito poucos para atender o grande número de cartas e pedidos em pessoa que possam surgir em conseqüência desta publicação. Além do mais, a quebra do anonimato poderia prejudicar as nossas atividades profissionais, visto sermos pessoas de negócios ou de profissão liberal. Queremos que fique bem entendido que nosso trabalho sobre alcoólicos é uma vocação.
Recomendamos a todos nossos companheiros que, ao escrever ou falar para o público sobre alcoolismo, omitam seus nomes, designando-se simplesmente como membro de “Alcoólicos Anônimos”.
Encarecidamente solicitamos também aos pessoas de imprensa que observem esse pedido, pois de outro modo seriamos muito prejudicados. Não somos uma organização no sentido convencional da palavra. Não temos que pagar quotas nem mensalidades. O único requisito para ser membro é o sincero desejo de deixar d beber.
Não pertencemos a nenhuma seita ou denominação religiosa em particular, nem nos opomos a nenhuma delas. Simplesmente almejamos ajudar os afligidos por esse mal. Será de grande interesse termos notícias dos que obtiveram bons resultados deste livro, especialmente dos que começaram a trabalhar com outros alcoólicos. Muito nos agradaria colaborar com eles. Será bem recebida toda correspondência da parte de sociedades científicas, médicas e religiosas.
ALCOÓLICOS ANÔNIMOS
Prefácio na Segunda Edição em 1955
Os números fornecidos neste prefácio descrevem a Irmandade como era em 1955.
Desde 1939, quando foi escrito o Prefácio original deste livro, deu-se um grande milagre. Nossa primeira edição expressou o desejo de que “todo alcoólico que viajar possa encontrar a Irmandade de Alcoólicos Anônimos em seu local de destino.” E o texto prossegue. “Dois, três e cinco grupos de companheiros nossos já surgiram em outras comunidades.”
Dezesseis anos se passaram entre nossa primeira tiragem deste livro e apresentação, em 1955, de nossa segunda edição. Neste curto espaço de tempo, Alcoólicos Anônimos desabrochou em quase 6.000 grupos cujos membros somam bem mais do que 150.000 alcoólicos recuperados. Grupos podem ser encontrados por todos os Estados Unidos e em todas as províncias do Canadá. Comunidades de A.A. estão florescendo nas Ilhas Britânicas, nos países Escandinavos, na África do Sul, América do Sul, México, Alasca, Austrália e Havaí. No total, iniciativas promissoras tiveram lugar em cerca de 50 países do exterior e em possessões americanas. Algumas estão, neste momento, se delineando na Ásia. Muitos amigos nossos nos encorajam, dizendo que isto é apenas um começo, apenas a promessa de um futuro muito maior.
A centelha que daria origem ao primeiro grupo de A.A. foi acesa em Akron, Ohio, em junho de 1935, durante uma conversa entre um corretor da Bolsa de Valores de New York e um médico de Akron. Seis meses antes, o corretor havia sido libertado de sua obsessão pela bebida por uma repentina experiência espiritual, após um encontro com um amigo alcoólico que havia estado em contato com os Grupos Oxford daquela época. Ele havia, também, recebido muita ajuda do falecido Dr. William D. Silkworth, médico de New York e especialista em alcoolismo, hoje considerado um santo médico pelos membros de A.A. e cuja história a respeito dos primeiros dias de nossa Sociedade está nas próximas páginas. Com este médico, o corretor aprendeu sobre a gravidade do alcoolismo. Embora não conseguisse aceitar todos os dogmas dos Grupos Oxford, ele se convenceu da necessidade de um inventário moral, da confissão dos defeitos de personalidade, da reparação junto aos que havia prejudicado, da ajuda ao próximo e da necessidade de acreditar e confiar em Deus.
Antes de sua viagem a Akron, o corretor havia trabalhado muito junto a vários alcoólicos, baseado na teoria de que somente um alcoólico poderia ajudar outro alcoólico, mas o único a quem conseguira manter sóbrio havia sido ele próprio. O corretor fora a Akron tratar de negócios que não deram certo, o que o deixou com muito medo de começar a beber novamente. De repente, percebeu que, para se salvar, precisava levar sua mensagem a outro alcoólico. Esse outro alcoólico foi o médico de Akron.
O médico, várias vezes, havia tentado resolver seu problema alcoólico através de recursos espirituais, mas não obteve sucesso. Porém, quando o corretor lhe transmitiu a descrição do Dr. Silkworth a respeito do alcoolismo e seu caráter incurável, o médico começou a buscar o remédio espiritual para sua doença com uma determinação da qual nunca antes fora capaz. Parou de beber e permaneceu sóbrio até o momento de sua morte em 1950. Isto pareceu provar que um alcoólico podia exercer sobre outro alcoólico um efeito impossível de ser conseguido por qualquer não-alcoólico. Demonstrou também que um trabalho persistente, de um alcoólico com outro, era vital para a recuperação permanente.
Por isso, os dois pessoas começaram, quase freneticamente, a tentar persuadir os alcoólicos que chegavam à enfermaria do Akron City Hospital. Seu primeiro caso, desesperador, recuperou-se imediatamente e tornou-se o terceiro membro de A.A.
Nunca mais bebeu. Este trabalho em Akron prosseguiu durante todo o verão de 1935. Houve muitos fracassos mas, de vez em quando, havia um sucesso encorajador. Quando, no outono de 1935, o corretor voltou para New York, o primeiro grupo de A.A. havia sido formado, embora, na época, ninguém se desse conta disso.
Um segundo grupo pequeno logo se formou em New York e seu exemplo foi seguido em 1937, com o início de um terceiro, em Cleveland. Além desses, havia alcoólicos solitários que tomaram conhecimento das ideias básicas em Akron ou New York e tentavam formar grupos em outras cidades. No final de 1937, o número de membros com um tempo razoável de sobriedade era suficiente para convencê-los de que uma nova luz havia penetrado no mundo sombrio do alcoólico.
Era então o momento, acreditaram os esforçados grupos, para levar ao mundo sua mensagem e sua inigualável experiência. Esta determinação deu frutos na primavera de 1939, com a publicação deste volume. Os membros somavam então cerca de 100 pessoas. A nova sociedade, ainda sem nome, começou então a ser chamada Alcoólicos Anônimos, a partir do título de seu próprio livro. O período de vôo-cego terminou e A.A. entrou numa nova fase de sua época pioneira.
Com o aparecimento do novo livro, muita coisa começou a acontecer. O Dr. Harry Emerson Fosdick, o famoso clérigo, aprovou-o em sua crítica. No outono de 1939, Fulton Oursler, na ocasião editor da Liberty, publicou em sua revista um artigo intitulado “Os Alcoólicos e Deus”. Isto gerou um afluxo de 800 frenéticas consultas ao pequeno escritório de New York, instalado naquele meio-tempo. Cada uma das consultas foi criteriosamente atendida, panfletos e livros foram remetidos. Pessoas de negócios, deslocando-se dos grupos já existentes, apresentaram-se aos novos membros em potencial. Novos grupos foram criados e descobriu-se, para surpresa geral, que a mensagem de A.A. podia ser transmitida tanto pelo correio quanto verbalmente. Em fins de 1939, calculava-se que 800 alcoólicos estavam a caminho da recuperação.
Na primavera de 1940, John D. Rockefeller Jr. ofereceu um jantar a vários amigos, para o qual convidou membros de A.A., a fim de que estes contassem suas histórias. Notícias a respeito chegaram ao conhecimento do grande público. Novamente choveram consultas e muita gente foi às livrarias comprar o livro “Alcoólicos Anônimos”. Em março de 1941, o número de membros de A.A. havia chegado a 2.000. Então, Jack Alexander escreveu um importante artigo no Saturday Evening Post e retratou A.A. de forma tão convincente para o público que os alcoólicos em busca de ajuda realmente caíram sobre nós como uma avalanche. No final de 1941, A.A. contava com 8.000 membros. O processo de crescimento acelerado estava a todo vapor. A.A. se havia transformado em instituição nacional.
Nossa Sociedade entrou então num tímido e emocionante período de adolescência. O teste enfrentado foi o seguinte: Poderiam aqueles inúmeros alcoólicos até então errantes se reunir e trabalhar juntos com sucesso? Haveria discussões a respeito de membros, liderança e dinheiro? Haveria disputas de poder e prestígio? Haveria dissidências que destruiriam a unidade de A.A.? Em pouco tempo, A.A. viu-se cercados por esses problemas, por todos os lados e em todos os grupos. Mas, a partir desta alarmante e a princípio dilacerante experiência, nasceu a convicção de que os membros de A.A. precisavam permanecer unidos ou morreriam separados. Precisávamos unificar nossa Irmandade ou sair de cena.
Assim como havíamos descoberto os princípios através dos quais um alcoólico conseguia se manter vivo, precisávamos desenvolver princípios segundo os quais os grupos de A.A. e A.A. como um todo conseguissem sobreviver e funcionar de forma eficaz. Acreditava-se que nenhum alcoólico, homem ou mulher, poderia ser excluído de nossa Sociedade; que nossos líderes deveriam servir, jamais governar; que cada grupo deveria ser autônomo e que não seria exercida qualquer terapia profissional. Não haveria taxas ou mensalidades; nossas despesas deveriam ser cobertas por nossas próprias contribuições voluntárias. Nossa organização deveria se restringir ao mínimo, até mesmo em nossos centros de serviço. Nossas relações públicas deveriam basear-se em atração, não em promoção. Foi decidido que todos os membros deveriam ser anônimos em nível de imprensa escrita, rádio, televisão e cinema. E sob circunstância alguma deveríamos dar endosso, fazer alianças ou entrar em controvérsias públicas.
Esta era a essência das Doze Tradições de A.A. cujo texto integral encontra-se no final deste livro. Embora nenhum desses princípios tivesse a força de regras ou leis, já haviam sido, em 1950, tão amplamente aceitos, que foram confirmados por ocasião de nossa primeira Conferência Internacional, realizada em Cleveland. A extraordinária unidade de A.A. é, hoje, um dos maiores trunfos de nossa Sociedade.
Enquanto as dificuldades internas de nossa fase adolescente iam sendo eliminadas, a aceitação pública de A.A. crescia a passos largos. Havia duas razões principais para que isto ocorresse: o grande número de recuperações e os lares refeitos. O efeito causado por esses se fazia sentir em toda parte. Dos alcoólicos que chegavam a A.A. e realmente se esforçavam, 50% ficavam imediatamente sóbrios e assim permaneciam, 25% chegavam à sobriedade após algumas recaídas e, dos restantes, aqueles que continuavam em A.A. apresentavam melhoras. Milhares de outros frequentavam umas poucas reuniões de A.A. e, a princípio, decidiam não precisar do programa. Mas um grande número desses – cerca de dois terços – começou a voltar com o passar do tempo.
Outra razão para a ampla aceitação de A.A. foi a dedicação de amigos – amigos ligados à medicina, à religião e à imprensa que, ao lado de inúmeros outros, se tornaram nossos hábeis e persistentes advogados. Sem esse apoio, teria sido impossível que A.A. progredisse tão depressa. Algumas das recomendações dos primeiros amigos de A.A., médicos e religiosos, poderão ser encontradas neste volume.
Alcoólicos Anônimos não é uma organização religiosa. Nem apoia qualquer ponto de vista médico em especial, embora cooperemos amplamente com os médicos, assim como com os religiosos.
Não fazendo o álcool qualquer distinção de cor ou classe, somos uma perfeita amostra do povo americano e, em terras distantes, o mesmo processo democrático imparcial se está desenvolvendo. Em matéria de afiliações religiosas pessoais, incluímos católicos, protestantes, judeus, hindus e também muçulmanos e budistas. Mais de 15% de nossos membros são mulheres.
Atualmente, o número de membros de A.A. cresce na proporção de cerca de vinte por cento ao ano. Por enquanto, diante do problema total de vários milhões de alcoólicos de fato ou em potencial, em todo o mundo, conseguimos ainda muito pouco. É bastante provável que jamais sejamos capazes de atingir mais do que uma razoável fração do problema do alcoolismo em todas as suas ramificações. No que se refere à terapia para o alcoólico, certamente não temos o monopólio. Nossa maior esperança, porém, é que todos aqueles que, até agora, não tenham encontrado respostas, possam começar a encontrar alguma nas páginas deste livro e venham, em breve, juntar-se a nós na estrada de acesso a uma nova liberdade.
Prefácio na Terceira Edição em 1976
Em março de 1976, quando esta edição foi a prelo, o número total de membros de Alcoólicos Anônimos era conservadoramente avaliado em mais de um milhão, com cerca de 28.000 grupos reunindo-se em mais de 90 países.
Levantamentos de grupos nos Estados Unidos e no Canadá indicam que A.A. vem atingindo não apenas um número cada vez maior de pessoas, mas um raio de ação cada vez mais amplo. Entre nossos membros, as mulheres perfazem mais de um quarto; entre os recém-chegados, esta proporção chega a quase um terço. Sete por cento dos membros dos grupos estudados têm menos de 30 anos de idade – entre esses, vários adolescentes.
Os princípios básicos do programa de A.A., ao que parece, são válidos para pessoas com os mais variados estilos de vida, assim como o programa tem recuperado indivíduos das mais diversas nacionalidades. Os Doze Passos que resumem o programa podem ser chamados Los Doce Pasos num país, Les Douze Etapes em outro, mas traçam exatamente o mesmo caminho para a recuperação que foi desbravado pelos primeiros membros de Alcoólicos Anônimos.
Apesar da grande expansão em tamanho e em raio de alcance desta Irmandade, ela permanece, em sua essência, simples e pessoal. Todos os dias, em algum lugar do mundo, uma recuperação tem início quando um alcoólico fala com outro alcoólico, compartilhando experiências, forças e esperanças.
Prefácio na Quarta Edição em 2001
Esta quarta edição de “Alcoólicos Anônimos” veio a público em novembro de 2001, no começo de um novo milênio. Desde a terceira edição, que foi publicada em 1976, o número de membros de A.A. dobrou, atingindo mais de dois milhões de pessoas, com cerca de 100.800 grupos reunindo-se em aproximadamente 150 países.
A literatura tem desempenhado um importante papel no crescimento de A.A. Um fenômeno notável no último quarto de século foi a explosão de traduções de nossa literatura básica para inúmeros idiomas e dialetos. Em cada um dos países em que a semente de A.A. foi plantada, ela primeiro fincou raízes lentamente, passando a crescer a passos largos a partir do momento em que se divulgou a literatura.
tualmente o livro “Alcoólicos Anônimos” está traduzido em quarenta e três idiomas.
À medida que a mensagem de recuperação alcançava um número cada vez maior de pessoas, ela também passou a afetar as vidas de uma crescente variedade de alcoólicos. Quando a frase “Somos pessoas que, normalmente, não se encontrariam juntas” (página 47 deste livro) foi escrita em 1939, ela se referia a uma Irmandade composta em sua maioria por pessoas provenientes de um ambiente social, étnico e econômico bastante parecido. Como muitas outras partes do texto básico de A.A., estas palavras revelaram-se muito mais proféticas do que nossos membros fundadores sequer poderiam imaginar. As histórias acrescentadas a esta edição2 representam a participação em nossa Irmandade de pessoas cujas características – de idade, gênero, raça e cultura – se ampliaram e se aprofundaram para incluir virtualmente qualquer indivíduo que os nossos primeiros cem membros poderiam esperar atingir.
Enquanto nossa literatura preserva a integridade da mensagem de A.A., amplas mudanças na sociedade como um todo se refletem em novos hábitos e procedimentos dentro da Irmandade. Por exemplo, aproveitando-se dos avanços tecnológicos, os membros de A.A. que dispõem de computador podem participar de reuniões por Internet, compartilhando com companheiros alcoólicos de todo o país e do mundo inteiro. Em qualquer reunião, em qualquer lugar, os A.As. compartilham entre si experiências, forças e esperanças com o propósito de manterem-se sóbrios e ajudarem outros alcoólicos. Modem a modem ou cara a cara, os A.As. falam a linguagem do coração em todo o seu poder e simplicidade.